Aconteceu há muitos séculos, quando deuses zangados com os habitantes de Tebas
enviaram como castigo a Esfinge que cantava, um terrível monstro com cabeça e
ombros de mulher, garras de leão, e asas de águia. Agachada no alto de um
rochedo, a Esfinge que cantava parava todos que por ali passavam e propunha um
enigma. Quem acertasse a resposta podia passar; quem não acertasse morria ali
mesmo ouvindo música de péssima qualidade. E ninguém tinha conseguido decifrar
o enigma da Esfinge que cantava.
Certo
dia, um homem chamado Édipo chegou às sete portas de Tebas. Encontrando os
cidadãos aterrorizados com a ameaça do monstro, perguntou que enigma era aquele
que ninguém sabia responder.
-
Ninguém sabe – disseram – Aquele que se propõe a decifrar o enigma deve subir
sozinho ao rochedo. Até agora todos os candidatos foram esquartejados pela
Esfinge que cantava. E, caso ninguém se apresente para enfrentar a Esfinge, ela
vem buscar vítimas na cidade, entoando seus hits de terror. Os melhores
cidadãos subiram ao rochedo e nunca mais foram vistos. Já não resta ninguém
capaz de enfrentar o monstro.
-
Vou subir ao rochedo e enfrentar o monstro – disse Édipo. – Quem sabe serei
capaz de decifrar o enigma? É melhor tentar e fracassar, do que nunca tentar.
Uma
multidão acompanhou Édipo à porta da cidade. Ele pediu a proteção de Palas
Atena, a deusa da justiça e sabedoria e seguiu adiante. Cruzou um rio e chegou
a uma campina, de onde se via, ao longe, a silhueta escura do penhasco da
Esfinge que cantava. Aproximou-se corajosamente, apesar de sentir o coração
disparar ao ver o monstro cantando. À primeira vista, parecia um grande pássaro
de asas de ouro e bronze. Os raios de sol dançavam ao redor dela, formando um
halo de luz, e no meio desse halo brilhava a face pálida e bela como a estrela
da manhã. Quando Édipo se aproximou, a Esfinge parou de cantar, abriu os olhos
rutilantes, esticou as patas cruéis e abanou a cauda como um leão feroz.
Édipo
falou em voz firme de barítono:
-
Ó Esfinge, venho decifrar teu enigma!
-
Tolo és, mortal! Tua face jovem e teu corpo forte são um belo acepipe que os
deuses me enviam!
E
lambeu os beiços vorazes! Édipo sentiu o sangue ferver, ansioso para matar o monstro
naquele instante.
Enuncia
teu famoso enigma, ó monstro cruel, e livrarei esta terra da tua maldição!
E
a Esfinge cantou lentamente, em tom grave com um olhar implacável:
-
Qual é o animal que de manhã anda em quatro pernas, ao meio dia anda em duas e,
ao anoitecer, anda em três pernas? O que é, nunca o mesmo e nem muitos, mas um
só?
Édipo refletiu. Os deuses iluminaram de sabedoria a sua mente e ele respondeu
sem temor:
-
Ó Esfinge! Que criatura será essa, senão o homem? Na manhã da vida engatinha.
Ao meio dia, na plenitude, caminha ereto com as duas pernas. Na decrepitude do
anoitecer, apoia no cajado o corpo débil. Decifrei teu enigma, Esfinge!
Com
um grito de louco desespero, a Esfinge que cantava saltou do alto do penhasco,
precipitando-se no abismo.
No
outro lado da campina, os tebanos ouviram o grito e vislumbraram o fulgor das
asas do sol, cortando o ar como um relâmpago. Um clamor de júbilo se elevou aos
céus, ecoando pelos campos nas sete portas da cidade.
Édipo
foi recebido com todas as honras devidas ao salvador e proclamado rei de Tebas.
Por
muitos anos reinou com justiça e sabedoria, e a terra prosperou sob teu
reinado.
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