7 de fevereiro de 2016

A Esfinge que Cantava. Mito Grego.


Aconteceu há muitos séculos, quando deuses zangados com os habitantes de Tebas enviaram como castigo a Esfinge que cantava, um terrível monstro com cabeça e ombros de mulher, garras de leão, e asas de águia. Agachada no alto de um rochedo, a Esfinge que cantava parava todos que por ali passavam e propunha um enigma. Quem acertasse a resposta podia passar; quem não acertasse morria ali mesmo ouvindo música de péssima qualidade. E ninguém tinha conseguido decifrar o enigma da Esfinge que cantava.
Certo dia, um homem chamado Édipo chegou às sete portas de Tebas. Encontrando os cidadãos aterrorizados com a ameaça do monstro, perguntou que enigma era aquele que ninguém sabia responder.
- Ninguém sabe – disseram – Aquele que se propõe a decifrar o enigma deve subir sozinho ao rochedo. Até agora todos os candidatos foram esquartejados pela Esfinge que cantava. E, caso ninguém se apresente para enfrentar a Esfinge, ela vem buscar vítimas na cidade, entoando seus hits de terror. Os melhores cidadãos subiram ao rochedo e nunca mais foram vistos. Já não resta ninguém capaz de enfrentar o monstro.
- Vou subir ao rochedo e enfrentar o monstro – disse Édipo. – Quem sabe serei capaz de decifrar o enigma? É melhor tentar e fracassar, do que nunca tentar.
Uma multidão acompanhou Édipo à porta da cidade. Ele pediu a proteção de Palas Atena, a deusa da justiça e sabedoria e seguiu adiante. Cruzou um rio e chegou a uma campina, de onde se via, ao longe, a silhueta escura do penhasco da Esfinge que cantava. Aproximou-se corajosamente, apesar de sentir o coração disparar ao ver o monstro cantando. À primeira vista, parecia um grande pássaro de asas de ouro e bronze. Os raios de sol dançavam ao redor dela, formando um halo de luz, e no meio desse halo brilhava a face pálida e bela como a estrela da manhã. Quando Édipo se aproximou, a Esfinge parou de cantar, abriu os olhos rutilantes, esticou as patas cruéis e abanou a cauda como um leão feroz.
Édipo falou em voz firme de barítono:
- Ó Esfinge, venho decifrar teu enigma!
- Tolo és, mortal! Tua face jovem e teu corpo forte são um belo acepipe que os deuses me enviam! 
E lambeu os beiços vorazes! Édipo sentiu o sangue ferver, ansioso para matar o monstro naquele instante.
Enuncia teu famoso enigma, ó monstro cruel, e livrarei esta terra da tua maldição!
E a Esfinge cantou lentamente, em tom grave com um olhar implacável:
- Qual é o animal que de manhã anda em quatro pernas, ao meio dia anda em duas e, ao anoitecer, anda em três pernas? O que é, nunca o mesmo e nem muitos, mas um só?

Édipo refletiu. Os deuses iluminaram de sabedoria a sua mente e ele respondeu sem temor:
- Ó Esfinge! Que criatura será essa, senão o homem? Na manhã da vida engatinha. Ao meio dia, na plenitude, caminha ereto com as duas pernas. Na decrepitude do anoitecer, apoia no cajado o corpo débil. Decifrei teu enigma, Esfinge!
Com um grito de louco desespero, a Esfinge que cantava saltou do alto do penhasco, precipitando-se no abismo.
No outro lado da campina, os tebanos ouviram o grito e vislumbraram o fulgor das asas do sol, cortando o ar como um relâmpago. Um clamor de júbilo se elevou aos céus, ecoando pelos campos nas sete portas da cidade.
Édipo foi recebido com todas as honras devidas ao salvador e proclamado rei de Tebas.
Por muitos anos reinou com justiça e sabedoria, e a terra prosperou sob teu reinado.