O presente texto tem como objetivo mostrar a história, os
conceitos e as atividades educacionais abordadas por Murray Schafer,
compositor, escritor, educador musical e ambientalista.
Nascido no Canadá no dia 18.07.1933, Raymond Murray Schafer,
desenvolve seus trabalhos no qual abrangem as áreas de educação musical,
composição, filosofia, literatura e comunicação. Podemos desta forma também
identificar grande influência pelas principais tendências dos anos 60 como
serialismo, música aleatória, música eletroacústica e multimédia. No ano
de 1961 fundou a “Ten Centuries Concert” para música nova. Outro tema também
abordado por Schafer em seu trabalho é o interesse por línguas antigas e
a ênfase na qualidade fonética do texto no qual podem ser apreciadas em seus
trabalhos de multimédia “ Loving/Toi (1966) e a trilogia Pátria (1972).
Em “Son of Heldenleben" (1968), Schafer emprega citações musicais,
outra de suas características. Em 1972 iniciou uma pesquisa pioneira de
ecologia acústica, e mais tarde produziu um inventário mundial de “paisagens sonoras”
patrocinadas pela UNESCO. Seu trabalho de educação musical tem como prioridade
a criação e a consciência do som, ao invés de teorias e habilidades
instrumentais, desta forma, tornando seu trabalho inovador comparado a outros
educadores.
Contexto Histórico:
Murray Schafer a pertence à segunda geração de educadores
musicais, segundo Marisa Fonterrada em seu livro De Tramas e Fios: “A chamada
segunda geração de educadores musicais, que floresceu na Europa e na América do
Norte em meados da década de 1950 e inicio da seguinte. Essa época coincide com
a grande virada da produção musical, com as pesquisas lideradas por Pierre Chaeffer
na Radiotélévision Française e as experiências de música eletrônica conduzidas.
De maneira geral, as propostas da chamada música de vanguarda apontavam para um
renovado interesse pelo som como matéria prima da música e sua transformação,
graças a uma série de procedimentos de manipulação”.
Conforme o próprio texto, Schafer diz: “Música é sons, sons à
nossa volta, quer estejamos dentro ou fora de salas de concerto”
Podemos destacar que tanto na Europa quanto na América do Norte a
educação musical ganhou grande importância e assim inúmeras metodologias
surgiram e foram testadas em escolas do primeiro e segundo grau. O objetivo
fundamental dessa nova forma de ver a música seria a de formar crianças, jovens
e adultos em seres aptos a ouvir a criar músicas.
Os educadores musicais pertencentes a este período buscam uma
“nova forma de ensinar” a música. Segundo Marisa Fonterrada em seu livro De
Tramas e Fios “Os educadores musicais desse período alinham-se às propostas da
música nova e buscam incorporar à prática da educação musical nas escolas, os
mesmos procedimentos dos compositores de vanguarda, privilegiando a criação, a
escuta ativa, a ênfase no som e suas características, e evitando a reprodução
vocal e instrumental do que denominam “música do passado””.
Em seu livro, Marisa Fonterrada, relata sobre os educadores que
pertence a essa geração separando em duas duplas. A primeira dupla de
educadores seria: George Self e John Paynter, no qual tem como maior foco o
trabalhar música de forma diferente do que é usado pelas teorias atuais. O foco
desses dois educadores até pela sua própria história de vida são os alunos. Já
os educadores Murray Shafer e Boris Porena têm como foco principal os
educadores, enfim, as possibilidades novas sobre a educação e as metodologias
de ensino.
Murray Schafer, como foi dito anteriormente, com suas idéias
inovadoras tem como principio focar acima de tudo na qualidade da audição e
também na capacidade criativa pelo ser humano.
Conceitos Murray Schafer
Cada vez mais, Murray Schafer vem conseguindo adeptos entre os
educadores, ao mesmo tempo em que também causa polêmica entre os mais
conservadores. Diz Marisa Fonterrada “Outra de suas posições polêmicas diz
respeito ao repertório usualmente utilizado no ensino de música, pois no seu
entender, a criança isenta de atitudes preconceituosas em geral encontradas
entre adultos, tem capacidade para apreciar tanta a música do passado quanto ao
da vanguarda, e deve ser estimulada a tomar contato com produções de vários
estilos e épocas”.
Em seu Livro, O Ouvindo Pensante, Murray Schafer é bem claro em
seus objetivos: “Meu trabalho em educação musical tem se concentrado
principalmente em três campos:
1 – Procurar descobrir todo o potencial criativo das crianças, para que possam
fazer música por si
mesma.
2- Apresentar aos alunos de todas as idades os sons do ambiente; tratar a
paisagem sonora do mundo como uma composição musical, da qual o homem é o
principal compositor, e fazer julgamentos críticos que levem à melhoria de sua
qualidade”.
Diferente do pensamento da primeira geração de educadores, a
segunda geração pensa acima de tudo na composição e a exploração de novos
formatos musicais.
No ano de 1969, com o objetivo de estudar o ambiente sonoro,
Schafer e um grupo de pesquisadores formaram o “World Soundscape Project –
Projeto de Paisagem Sonora Mundial com o objetivo da junção da natureza com a
música como também realizar um estudo interdisciplinar a respeito de ambientes
acústicos e seus efeitos no ser humano. A pesquisa resultou nas seguintes
publicações: publicações: The book of noise, The Music of
the Environment, A Survey Community Noise By-laws in Canadá, The Vancouver
Soundscape, Dictinonary of Acoustic Ecology, Five Village Sondscape e A
European Sound Diary. Nesta pesquisa,
Schafer relata sobre a sonoridade antes e pós revolução industrial como os
ruidos, consequencias da vida moderna do ser humano.
Na última parte de sua
pesquisa, Schafer discute possíveis soluções em relação à poluição sonora,
pensando até na melhoria auditiva e a sensibilidade estética frente às pessoas
com o objetivo de sonoridades agradáveis. De acordo com Murray,
“Soundscape é como todo e qualquer evento acústico que compõe um
determinado ambiente. Dentro
dessa perspectiva, “o termo pode referir-se a ambientes reais ou a construções
abstratas, como composições musicais e montagens de fitas, em particular quando
consideradas como um ambiente.”
Ambiente Sonoro: Schafer acredita que toda a sonoridade deve
ser levada em consideração e não apenas a musicalidade trabalhada em estúdios e
salas de concertos. É possível assim trabalhar e fazer vários exercícios com os
sons do ambiente. Em seu livro Ouvido Pensante, Schafer faz algumas perguntas
do tipo: “ Qual foi o som mais agudo que foi ouvido nos últimos dez minutos?; O
som mais forte?.
Desta forma, definimos o Ambiente Sonoro como toda a sonoridade que o ambiente
nos traz, desde a sonoridade do motor de um veículo até o abrir de uma
geladeira. A sonoridade possui textura, formato e deve ser percebida por todos
com o objetivo de se tornar um ouvinte ativo.
Música não se resume apenas em livros de HARMONIA FUNCIONAL PARA ESTUDANTES DE MÚSICA, percepção como
também em exercício de solfejo. Poderá, desta forma, existir novos horizontes e
novas expectativas. O aprendizado, o sentir, o criar, o pensar sempre vem de
encontro ao amadurecimento pessoal de cada um. Novas possibilidades são de
grande valia e estar preparado para novos pensamentos é o que faz de nós seres
humanos seres em eterna construção.